“É só um ventinho encanado…”

Em 2005, quando eu não tinha sequer um ano trabalhando como professora de educação infantil na prefeitura de São Paulo, num CEI, dentro de um CEU, me deparei com uma situação bem comum ao nosso cotidiano. Devo aqui frisar que logo que se ingressa no trabalho docente com crianças entre os 0 aos 3 anos é considerado comum a gente pegar um monte de doenças, até adquirir um pouco mais de imunidade. Aja visto o excesso de contatos que temos com as crianças, bem como elas também estarem mais suscetíveis para adquirir qualquer doença. Pois bem, ao receber um aluno, de cerca de dois anos, na porta da sala percebi imediatamente que ele estava com um dos olhos muito, muito vermelho mesmo. Perguntei para a mãe o que era e já emendei na hora a informação que ele não poderia ficar na escola. Ela apenas me respondeu com a maior naturalidade: “Foi um ventinho encanado que ele pegou Professora, nada demais”. E saiu apressadamente me deixando ali com o bebê. Estava mais que claro para mim que aquilo não era “só um ventinho” e sim uma conjuntivite. No dia seguinte, bem como por vários dias ele faltou, bem como eu, pois, ele estava com conjuntivite bacteriana e eu também foi contaminada. Vale destacar aqui que o que eu disse logo no começo ser comum também é a insistência das famílias em deixarem as crianças na escola mesmo com a nítida percepção que elas não estão boas. E isso certamente não deveria ser considerado, comum, normal, ou aceitável, todavia, isso fica para outro café.

Bom, aquele “ventinho encanado” contaminou a mim, a minha Mãe, a Mãe, o Pai, o Irmão e o Avô do meu aluno. E por termos adquirido o tipo mais grave, precisamos tod@s fazermos algumas raspagens, uns mais, outr@s menos. Veja o detalhe, tod@s! Minha Mãe, que teve os efeitos mais fortes, precisou usar um colírio master, power, que na época estava em teste no Brasil e a Oftalmologista, quis arriscar no caso dela. A oftalmologista ainda nos alertou que durante muitos anos manchinhas não visíveis apareceriam em nossas córneas. Resumo da Ópera, o que foi subestimado como sendo uma “coisinha de nada”, foi muito cara em termos de saúde para tod@s @s envolvid@s.

O que pretendo salientar com o relato dessa minha experiência aqui no Café de hoje é: a gente simplesmente não sabe de fato as condições reais dos nossos corpos para responder a uma doença. Em se tratando de vírus e bactérias, cada corpo irá reagir de uma forma, em alguns pode ser algo mais simples, em outros custar sequelas, e ainda outros a própria vida. Como nos nossos casos, cada qual reagiu de uma forma. E esse sentimento deveria ser levado extremamente a sério quando falamos do covid, ainda mais porque ele é um vírus novo, com poucos estudos, nesse caso de fato não se sabe mesmo ainda os todos os danos que ele pode causar. Você que está lendo esse Café, por mais que ache que sabe muito bem como seu corpo está, na real, não sabe nada. Quantas doenças podem ser crônicas e ainda não terem sido identificadas? Como as suas células estão para enfrentar as células do vírus? Ele não tem ainda um remédio específico. Como você pode ousar pensar que não é nada? E se não for tão forte para você, mais fatal para quem você contaminou?

Outro destaque que quero ressaltar é o quanto, nós professoras e professores nos expomos ao perigo de contrairmos doenças, é muita gente trancada numa sala, muitas realidades, muitos organismos reagindo de forma diferente. É claro que a gente é mais vulnerável, não é à toa que, nesse caso da pandemia é necessário parar as aulas. E digo mais, deveria ser um direito docente recebermos a insalubridade, por inúmeras razões, e não apenas por essa que destaquei.

Por isso, meu amigo, minha amiga desse Café com um gosto mais amargo, porém, que teve a intenção de uma profunda reflexão comportamental. Fique em casa!