APOCALIPSE NOW

Ouvi, vinda do Santuário, uma grande voz, dizendo aos sete anjos: Ide e derramai pela terra as sete taças da cólera de Deus. Saiu pois, o primeiro anjo e derramou a sua taça pela terra, e, aos homens portadores da marca da besta e adoradores da sua imagem, sobrevieram úlceras malignas e perniciosas (Apocalipse 16.1-2)

 

O título dessa reflexão remete a um filme norte americano de guerra, de 1979, de Francis Ford Copolla, com imagens fortes de destruição da natureza, a brutalidade sem propósito, a supremacia dos EUA e os efeitos que a guerra pode produzir à mente humana. Filmes como esse, bem como, momentos em que a fragilidade humana fica exposta, para as pessoas que tem formação religiosa, o termo “apocalipse” definem o sentimento que temos em relação ao nosso tempo: “O mundo está acabando!”; “É a volta de Cristo!”; tudo nos leva a pensar que a vida, como a conhecemos, está entrando em colapso. Essa sensação, para quem se acredita firme na fé, poderia trazer algum alento. Infelizmente, nem sempre é assim. Somos humanos e mesmo desejando ir para o Céu, não queremos morrer para isso.

O texto do Apocalipse de João apresenta um quadro de visões de um profeta-visionário, João de Pátmos, dos primórdios do Cristianismo Primitivo. A pesquisa acadêmica localiza a datação desta obra por volta do final do primeiro, início do segundo século da Era Comum. Os mais conservadores, acreditam que seja do ano 90 EC; outros, o localizam por volta do ano 130 EC. A obra faz parte de uma longa tradição judaico-cristã de apocalipses de visões e reflete uma reunião de imagens que precisam ser visualizadas ou imaginadas por seus interlocutores. Mais do que ler, é preciso imaginar as cenas que o texto apresenta: os monstros apocalípticos, as visões de cultos de adoração diante do trono de Deus, as pragas enviadas por Deus em três blocos (7 selos, 7 trombetas, 7 taças) que se alternam entre esses cultos e monstros.

Para pesquisadores do Apocalipse de vertente mais sociológica, a obra é uma resposta da Igreja Cristã, em forma de visão, à violência em que o seu mundo estava inserido; um mundo de perseguição. Para leitores “místicos”, o Apocalipse é a revelação do que Deus prepara para o final da história do mundo. Seja como for, os temas estão dados: num mundo violento, de pessoas que se deixaram levar pela ambição, pelo desejo do consumo desenfreado ou que veneraram a “besta”, sobrevirão os castigos e as pragas e tudo será destruído.

Como mencionado, sempre que tragédias, guerras ou pandemias ameaçam a existência humana, nos lembramos do Apocalipse. De fato, no geral, as homilias dominicais, raramente, escolhem esse texto como base. Mas nos momentos de crise, nos lembramos dele. E então, o que o Apocalipse de João tem a nos ensinar em tempos de pandemia e isolamento social?

Historicamente, sabemos que a humanidade passou pela peste negra e a gripe espanhola, duas guerras mundiais e conflitos suficientes para inspirar vários outros filmes de terror e infelizmente, aprendeu ou melhorou pouco. Para os pessimistas, essa história tende a se repetir. Para os otimistas, porém, a pandemia pode nos ajudar mais do que atrapalhar: é uma excelente oportunidade para revermos as nossas relações, valorizar o ser humano como próximo e reavaliar temas como respeito, afeto, compaixão e solidariedade.

 É o fim do mundo? Acredito que não. Talvez seja o fim de uma forma de viver. Isso se relaciona diretamente com o mencionado acima, sobre a forma como tratamos nossos semelhantes, mas também, a forma como pensamos as relações de consumo, uma vez que, estamos vendo pessoas que podem correr aos mercados e comprar tudo, fazendo estoques, desafiadas a comprar apenas o necessário para que, as outras também possam comprar o que necessitam e mais do que isso, temos a possibilidade de entender que, talvez comprar tanto não seja necessário. Temos diante de nós a oportunidade de perceber que aquela troca de carro pode esperar, que talvez não precisemos dessa ou daquela roupa de grife e que, se ninguém for ao posto de gasolina e ao shopping por algum tempo, os preços tendem a cair. Mais do que isso, está diante de nós a possibilidade de compreender a diferença entre preços e valores. O que realmente importa não tem preço: o ar puro que entra em nossos pulmões, quando estamos saudáveis, não tem dinheiro que possa comprar. E por mais rico que alguém seja, ao se encontrar adoentado, a fortuna, poder ou prestígio pouco podem fazer. O ar dos pulmões que o vírus rouba, o dinheiro não compra de volta.

Outra lição que o Apocalipse de João nos ensina é sobre o cuidado com a Terra, nossa casa comum. O planeta que habitamos vem sofrendo por longos anos com a depreciação e o abuso de suas fontes naturais por parte dos seres humanos. No Gênesis, ao construir um jardim, Deus deu ao casal primordial, a responsabilidade administrativa sobre a terra; o cuidado com a preservação da vida, da flora e da fauna. Por ambição e desejo desenfreado por progresso, destruímos, matamos, caçamos e tornamos o planeta quase inabitável. Em poucos dias de ausência humana no planeta, a poluição do ar e dos rios já diminuiu e isso já pode ser percebido. O planeta passa bem, sem nós. Toda  destruição e violência promovida pelo Apocalipse de João culmina com a restauração e inauguração de uma nova terra. É o retorno ao paraíso perdido de Gênesis. O nosso tempo em isolamento social, dure o tempo que for, nos permite refletir também sobre uma nova postura a ser assumida, quando voltarmos “lá para fora”. O progresso às custas da natureza, a utilização de meios de transporte que poluem a atmosfera valeriam tanto a pena, se tivéssemos em mente que não poderíamos usufruir do sol nos aquecendo ou do canto de um pássaro, nos alegrando o dia, ou de uma brisa nos refrescando no calor?

Entretanto, a maior lição que a leitura do Apocalipse pode nos ensinar é a da esperança. Toda a violência da destruição, o derramamento das pragas nos leva a pensar que, quando tudo passar, temos a oportunidade do recomeço. Aprendidas as lições, retomaremos a vida, quero crer, de forma otimista e quase romântica,  com mais responsabilidade para com o mundo, valorizando os relacionamentos e entendendo que, mais do que ganhar dinheiro para comprar coisas, é importante o contato, o afeto, o olhar nos olhos, o abraço.  Até lá, como diria um provérbio muçulmano: creia em Deus e amarre seu camelo. Traduzido em linguagem cristã e ocidental: tenha  esperança e fé, aproveite o tempo para se dedicar a você mesmo, à sua família, mas se cuide e fique em casa.

Como esse texto foi adaptado de uma publicação em um periódico de uma igreja, vou manter informações bibliográficas e sobre o autor:

MATTOS, Carlos Eduardo de A. Doutorando e Mestre em Ciências da Religião pelo Programa de Pós- Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo/CAPES, com ênfase em Literatura Bíblica e textos apocalípticos.

Bibliografia de referência:

BOFF, Leonardo. Virtudes para um outro mundo possível. Hospitalidade: Direito e dever de todos. Petrópolis: Vozes, 2005

NOGUEIRA, Paulo. O que é Apocalipse. São Paulo: Brasiliense, 2008. (Coleção: Primeiros Passos; 333)

TERRA, Kenner. O Apocalipse de João: caos, cosmos e o contradiscurso Apocalíptico. São Paulo: Editora Recriar, 2019.

A beleza salvará o mundo

A frase que emprestamos de Dostoiewski no romance O Idiota para o título deste café tem passeado pela minha mente e ganhando novos significados nesse período de quarentena em que todos estamos submetidos nos últimos meses por conta da pandemia do covid-19. Eu voltei ao carnaval de rua de São Paulo este ano, depois de 3 anos recluso no período, apesar de já ouvir rumores de um novo vírus perigoso chegando da China. Confesso que, naquele momento, achei que fosse uma gripe como tivemos ciclicamente, a cada 5 anos nas últimas décadas e que ficaria sob controle das autoridades sanitárias. Estava enganado: os primeiros casos já estavam se manifestando no Brasil e se eu não me contaminei foi pura sorte ou meu Santo que é forte mesmo. Talvez tenha me contaminado e ficado assintomático. Não sei. Além do vírus em si e das subnotificações, nosso país também tem falhado sistematicamente nos testes à população.

Em março, os números começaram a ganhar destaque nas manchetes de jornais e houve um caos inicial, com as pessoas correndo aos supermercados, estocando em casa papel higiênico (que ainda não faz muito sentido na minha cabeça o motivo disso por aqui) e álcool em gel. A funcionária de um super mercado me disse, uma vez, que álcool em gel nas prateleiras daquele mercado, naquele momento, era lenda urbana. Parecia, até então, apesar do exagero causado pelo medo desesperado da morte, que o nosso povo estava consciente da necessidade de se proteger e mais ainda, proteger as pessoas vulneráveis, pacientes de risco em potencial, que tinham ao seu redor. Hoje,passando de 2 milhões de casos no Brasil, já temos provas suficientes de que só parecia mesmo. As mesmas pessoas que esgotaram os estoques de papel higiênico e álcool em gel das prateleiras no primeiro momento, confirmaram o que esses feitos já demonstravam: o egoísmo delas só se exacerbou agora que, sair para fazer eventos sociais, frequentar bares e festas é mais importante do que pensar em todas as outras pessoas que podem ser contaminadas por esse “eu” que “não aguenta mais ficar quieto em casa” e simplesmente, sai.

Mas meu foco nesse café à distância não são essas e tantas outras atitudes feias de doer que temos visto, em especial no Brasil, no enfrentamento dessa pandemia. Ao contrário, retomando o título, minha intenção é colocar no centro da conversa a beleza que tem o potencial de nos salvar, enquanto o isolamento social não pega e as vacinas não saem. A despeito dos ataques e falta de incentivo que sofre por todos os lados, a beleza da vida permanece lutando para nos salvar de nós mesmos.

A arte, a cultura, os bons livros, a música,a dramaturgia no cinema, em filmes e peças de teatro, as flores que insistem em nascer, os pássaros que cantam a esperança de um novo amanhecer nas janelas que,para muitos de nós, são os únicos canais para ver o mundo neste momento. A criatividade da arte continua viva e sobrevivendo, lutando para nos trazer a beleza que muitas vezes é tão difícil de enxergar.

Eu tenho lutado muito para me manter produzindo algo de útil nesse tempo. Desanimado pelas notícias, enfraquecido pelo medo e muitas vezes, machucado pelas saudades dos encontros de amor e dos amigos e familiares, confesso que, cada dia é uma luta diferente a ser enfrentada. É verdade, minha rotina não mudou muito: como pesquisador, boa parte do meu dia sempre foi dedicado à clausura da biblioteca, sentado à frente da tela de um computador lendo ou escrevendo alguma coisa e estudando. O que mudou foi a preocupação, o já mencionado medo e a sensibilidade de saber que, a cada dia, centenas de famílias sofrem o luto, a perda e enfrentam a morte. É por isso que precisamos de beleza. A beleza da arte, quando nos toca fundo na alma, nos impede de naturalizar a dor do próximo. Quando somos sensibilizados pela beleza de uma música, de um livro comovente, de uma atuação dramática arrebatadora e nos espelhamos nessa arte, consequentemente, abrimos o coração para o semelhante.

A beleza da cultura tem me ensinado que eu não preciso ser tão produtivo quanto o meu patrão me cobra. O meu patrão é um mini-eu, escravo da produtividade acadêmica que habita minha mente e insiste em me lembrar prazos e tentar me comparar com outras pessoas. Rubem Alves disse uma vez que, “a infelicidade começa na comparação”. Então, eu posso pedir folga a esse patrãozinho dentro de mim, de vez em quando. Eu posso trilhar o meu próprio caminho, fazer pausas na produção para contemplar a beleza do mundo, que ainda está aí, sobrevivendo.

Por fim, só posso expressar minha gratidão a tantos profissionais da beleza pelas apresentações, shows, encenações, filmes que continuam produzindo para trazer alento a estes momentos difíceis que estamos enfrentando. E posso também recomendar que você, que está aqui, compartilhando essa leitura, se esforce também para afrouxar os nós das gravatas e dos laços que te prendem ao seu patrãozinho interior. Afaste também a cadeira da frente do computador, um pouco. Faça um café, aprecie a beleza da música, saboreie as palavras do seu autor preferido e se deixe tocar pela atuação e condução de seus atores, atrizes, diretores favoritos e experimente a salvação proporcionada pela beleza.

Incoerências

Nesse tempo pandêmico em que vivemos planetariamente tem revelado uma enxurrada de opiniões e também atos incoerentes. Uma mesma pessoa pode achar um mega master absurdo a mentira, mas compartilha notícias falsas numa velocidade e facilidade tremenda. Discentes que nunca se interessaram pelas aulas, reclamam em alto e bom som nos mais diversos meios de comunicação que estão perdendo conteúdo. E no campo escolar podemos ainda destacar aqueles que reclamam a falta das escolas para os alunos aprenderem, todavia, só a percebem como um depósito para deixar as crianças enquanto os responsáveis familiares vão trabalhar. Há aqueles religiosos que defendem a ferro e a fogo a preservação da vida, entretanto não ligam para os números de mortos que apenas sobem em virtude da covid 19. Tem quem quer que a epidemia acabe, só que não para em casa para que a disseminação do vírus cesse. Tem os que ficam horas a fio na fila para entrar num shopping, e saem de lá sem comprar absolutamente nada.

Há quem reclame veementemente dos gastos públicos com pesquisa e incentivo aos pesquisadores, mas, quer uma cura, ou uma vacina urgente. Existem o que querem discutir racismo, todavia, tem medo do seu discurso parecer incomodo aos brancos, ou ainda querem discuti-lo sem dar lugar de fala aos negros. E tem quem quer fazer nota de repúdio por tudo que considera errado, entretanto, não consegue ajudar alguém próximo que está em necessidade. Há quem faz apelos dizendo que a economia precisa voltar a crescer, pois, muitos irão morrer de fome, só que nunca se importaram em refletir sobre justiça e desigualdade social. Há quem não quer perder o emprego, ainda que isso lhe custe perder a vida. Há quem fez do trabalho a vida, e tem dificuldade em fazer o trabalho em casa. Tem quem quer a reabertura gradual do comércio em algumas cidades, justamente no período do aumento elevadíssimo no número de casos da doença.

A lista poderia seguir páginas e páginas a fio, isso porque só enfatizei aspectos que se tornaram ainda mais evidentes com a pandemia. É claro que considero que “parece natural” dos seres humanos praticarem, em algum momento da vida, em alguma situação uma certa incoerência, afinal somos imperfeitas, imperfeitos. Contudo, vivemos um tempo que podemos refletir sobre o que queremos ser, tanto quanto indivíduo como em sociedade. Podemos diminuir muito essas incoerências. Vivemos num momento que requer mudanças, quebra de paradigmas, reconstrução social, para que quando pudermos desfrutar do mundo pós-pandêmico vivamos, como diria a canção, dias em que seremos: “Melhores no amor/ Melhores na dor/ Melhores em tudo/ Dias de paz/ Dias a mais/ Dias que não deixaremos para trás”.*

Por isso, quero terminar meu Café de hoje com a pergunta: Em que medida você quer viver dias melhores superando suas incoerências?

*Dias melhores: Rogério Flausino- Jota Quest

“É só um ventinho encanado…”

Em 2005, quando eu não tinha sequer um ano trabalhando como professora de educação infantil na prefeitura de São Paulo, num CEI, dentro de um CEU, me deparei com uma situação bem comum ao nosso cotidiano. Devo aqui frisar que logo que se ingressa no trabalho docente com crianças entre os 0 aos 3 anos é considerado comum a gente pegar um monte de doenças, até adquirir um pouco mais de imunidade. Aja visto o excesso de contatos que temos com as crianças, bem como elas também estarem mais suscetíveis para adquirir qualquer doença. Pois bem, ao receber um aluno, de cerca de dois anos, na porta da sala percebi imediatamente que ele estava com um dos olhos muito, muito vermelho mesmo. Perguntei para a mãe o que era e já emendei na hora a informação que ele não poderia ficar na escola. Ela apenas me respondeu com a maior naturalidade: “Foi um ventinho encanado que ele pegou Professora, nada demais”. E saiu apressadamente me deixando ali com o bebê. Estava mais que claro para mim que aquilo não era “só um ventinho” e sim uma conjuntivite. No dia seguinte, bem como por vários dias ele faltou, bem como eu, pois, ele estava com conjuntivite bacteriana e eu também foi contaminada. Vale destacar aqui que o que eu disse logo no começo ser comum também é a insistência das famílias em deixarem as crianças na escola mesmo com a nítida percepção que elas não estão boas. E isso certamente não deveria ser considerado, comum, normal, ou aceitável, todavia, isso fica para outro café.

Bom, aquele “ventinho encanado” contaminou a mim, a minha Mãe, a Mãe, o Pai, o Irmão e o Avô do meu aluno. E por termos adquirido o tipo mais grave, precisamos tod@s fazermos algumas raspagens, uns mais, outr@s menos. Veja o detalhe, tod@s! Minha Mãe, que teve os efeitos mais fortes, precisou usar um colírio master, power, que na época estava em teste no Brasil e a Oftalmologista, quis arriscar no caso dela. A oftalmologista ainda nos alertou que durante muitos anos manchinhas não visíveis apareceriam em nossas córneas. Resumo da Ópera, o que foi subestimado como sendo uma “coisinha de nada”, foi muito cara em termos de saúde para tod@s @s envolvid@s.

O que pretendo salientar com o relato dessa minha experiência aqui no Café de hoje é: a gente simplesmente não sabe de fato as condições reais dos nossos corpos para responder a uma doença. Em se tratando de vírus e bactérias, cada corpo irá reagir de uma forma, em alguns pode ser algo mais simples, em outros custar sequelas, e ainda outros a própria vida. Como nos nossos casos, cada qual reagiu de uma forma. E esse sentimento deveria ser levado extremamente a sério quando falamos do covid, ainda mais porque ele é um vírus novo, com poucos estudos, nesse caso de fato não se sabe mesmo ainda os todos os danos que ele pode causar. Você que está lendo esse Café, por mais que ache que sabe muito bem como seu corpo está, na real, não sabe nada. Quantas doenças podem ser crônicas e ainda não terem sido identificadas? Como as suas células estão para enfrentar as células do vírus? Ele não tem ainda um remédio específico. Como você pode ousar pensar que não é nada? E se não for tão forte para você, mais fatal para quem você contaminou?

Outro destaque que quero ressaltar é o quanto, nós professoras e professores nos expomos ao perigo de contrairmos doenças, é muita gente trancada numa sala, muitas realidades, muitos organismos reagindo de forma diferente. É claro que a gente é mais vulnerável, não é à toa que, nesse caso da pandemia é necessário parar as aulas. E digo mais, deveria ser um direito docente recebermos a insalubridade, por inúmeras razões, e não apenas por essa que destaquei.

Por isso, meu amigo, minha amiga desse Café com um gosto mais amargo, porém, que teve a intenção de uma profunda reflexão comportamental. Fique em casa!

Pequenos detalhes que tornariam a vida no espaço urbano incrivelmente melhor

Eu gosto muito de refletir como as coisas são e como elas poderiam ser. Sempre pensando como elas poderiam ser muito melhores. Um dos princípios norteadores que levo em consideração na hora de pensar sobre como as coisas poderiam ser é a promoção da vida. E quando eu falo sobre a promoção da vida, estou pensando na amplitude que isso significa, não apenas na relação da morte e sim que aspectos retiram de nós uma qualidade absoluta da vida. Nesse café de hoje, vou destacar pontos em relação a qualidade de vida em nossas cidades, já que estamos as portas das eleições municipais (Se o covid deixar.).
Toda vez que ando na rua a pé fico inconformada com a falta de qualidade do que poderíamos dizer o mínimo necessário para conseguir andar em nossas calçadas (quem nunca caiu na rua, que atire a primeira pedra!). É necessário um padrão único de pavimentação para todas as cidades brasileiras, por isso, essa construção deveria ser uma responsabilidade total e exclusiva do poder público. Porque, quando cada residência faz do seu jeito, com a altura e o material que quer a gente passa de degrau a degrau em lugares que poderiam ser planos. Fico imaginando quantos e quantos acidentes, desde quedas e escorregões, que geram muitas vezes problemas físicos permanentes. Com um padrão único, feito por cada prefeitura, poderíamos evitar centenas e centenas de acidentes. E claro, as calçadas devem ser pensadas em termos de via rebaixada para entrada de carros e de cadeirantes, obviamente.
Ainda no âmbito da rua, outra coisa que eu não me conformo são os postes e a mega, master precária rede de fios dos mais variados serviços que temos via cabos. Ela precisa ser subterrânea. Custará caro, será trabalhoso realizar 100% das obras, sem dúvida, todavia, imagine você, quantos e quantos diversificados acidentes podem ser evitados com esses fios abaixo do asfalto. Com essa medida evitaremos os acidentes dos veículos e as próprias pessoas que acabam batendo nos postes; também os relacionados aos choques que as pessoas levam, ao tocá-los, sejam os próprios postes e os fios caídos, ou ainda incêndios que podem ocorrer nessas ligações. Ademais, não teríamos a disputa entre nossas árvores, que são tão necessárias, com os fios.
E por falar em árvores, precisamos readequar suas raízes, bem como a estrutura da calçada, de maneira que aja uma harmonia entre elas para que não criem buracos. E claro, priorizar quais as espécies que podem ser plantadas de maneira que suas raízes fiquem protegidas e não quebrem a calçada. E por falar em buracos da calçada, a manutenção precisa ser constante, ou ainda realizadas com um material mais resistente, pensando no padrão comentando acima, para que ocorra uma menor incidência desses buracos.
E o que falar dos nossos bueiros? Precisam ser repensados em termos de contenção de lixo, limpados com uma maior frequência. Claro que cada pessoa deve fazer sua parte não jogando lixo no chão. Todavia, as folhas que caem das árvores, precisam ser aspiradas, com aparelhos específicos para esse fim. Mais espaços gramados também ajudariam na retenção das águas da chuva.
Enfim, caros e caras companheir@s de mesa de café, a lista aqui poderia ganhar muitos e muitos itens, certamente você já deve, a essa altura da leitura, se identificado com as minhas reflexões, e ter ideias muitos mais brilhantes que as minhas e eventualmente mais eficazes conforme sua área de conhecimento. Ou ainda, se nunca tinha pensado sobre isso foi desafiado a pensar e querer também de alguma forma transformar algo na aparência urbana. Por isso, meu café de hoje visava essa reflexão, para que de alguma forma possa despertar ações que verdadeiramente modifiquem nossa relação com a vida no espaço urbano para a preservação da vida em suas mais diferentes dimensões. E como eu já comentei no começo, aproveite que é ano eleitoral, sugira tais medias em suas cidades para os candidat@s. Bora colocar isso em prática e tornar nossas cidades lugares que promovam a vida e o bem comum de toda a população.

A minha rádio é som e imagem!

 

Sou uma ouvinte de rádio. Apesar da tecnologia das mais diferentes formas e plataformas de distribuição de música em nossos tempos, continuo fiel ao “radinho”. Minha relação em ouvir rádio começa nem sei quando. Minhas memórias me remetem para a primeira infância, lembro da minha Irmã escutando rádio no quarto, (ela é 10 anos mais velha que eu), daqueles programas de top 10 mais tocadas. Ou mesmo da minha Mãe escutando aqueles clássicos locutores das rádios AMs. Meu Pai sempre foi mais do LP, depois do CD.

Eu comecei a ouvir rádio por mim mesma, nos idos de 1996. De uma forma até que bem fora do padrão. Até a sexta série eu estudava á tarde, e na sétima ao mudar de escola, tive que ir para o período matutino, para conseguir acordar no horário apropriado, precisei de um rádio relógio (meu sono é bastante pesado). Coloque o rádio relógio numa rádio qualquer que tocava uns reggae (na época eu já era fã do Skank), num programa que privilegiava esse ritmo na hora que eu precisava acordar. Um belo dia, coloquei o tuning no lugar errado, e meu rádio foi parar na 89 FM A Rádio Rock de São Paulo (tem até o outro café que falo mais dessa rádio, pode procurar aí na mesa do nosso blog.). De lá para cá, todos os rádios que tive só saíram da 89 nos anos que ela deixou de ser rock (Entre 2006 até 2012).

Ou seja, além de fiel ao rádio, sou fiel a uma única emissora de rádio. Todavia, esse café não é para falar sobre minha fidelidade a uma emissora de rádio, e sim para falar sobre o meu encantamento, e a mudança desse encantamento com o rádio.

Eu sempre achei o máximo a criatividade visual que o rádio podia despertar, sim visual. Afinal, ao apenas ouvir as vozes dos locutores/as,(isso porque os rostos dos roqueiros, a gente podia ver através da MTV Brasil), era necessário criar uma imagem mental de como era o aspecto físico d@ locutor/a. E depois que a gente cria uma imagem na cabeça… Como é difícil tirar! rs. Os anos foram passando, a internet começou a encurtar a distância entre o público e seus famosos favoritos. Foi nessa época que minhas imagens mentais d@s locutores/a foram sendo absurdamente destruídas, uma a uma. Nenhum/a passava sequer perto da imagem que eu havia construído na minha imaginação. Durante muito, muito tempo mesmo, fui considerando isso uma chatice, eu tinha me apegado tanto as minhas próprias imagens mentais deles e delas que não queria reconstruí-las por nada. Eu me apegava a minha própria imaginação, irreal, em alguns aspectos surreal, entretanto, a verdadeira imagem, essa eu teimava em não aceitar. Todavia, um belo dia eu tive que aceitar a realidade.

Hoje, alguns anos mais tarde, já bastante adaptada as imagens reais d@s locutores/as, uma outra novidade se incorporou a minha tradicional preferência pelo rádio. A internet derrubou de vez o conceito de apenas ouvir rádio, e trouxe a possibilidade de ouvir e ver @s locutores/as nas rádios. Interessante que essa adaptação foi extremamente fácil, e lamento profundamente quando não posso estar em casa para, literalmente assistir meu programa de rádio preferido. E nesses dias de covid então que a 89 resolveu transmitir parte significativa dos programas, com som e imagem, direto das casas d@s locutores/as. Aí eu me apeguei de vez a esse formato! rs.

O que quero com meu café de hoje, não é somente exaltar o rádio, e suas atuais formas, contundo, também trazer a reflexão que depois do covid nossas vidas nunca mais serão as mesmas, e a melhor coisa que a gente tem a fazer é encarar essa realidade de frente, longe de nossas imagens mentais do que um dia fomos. E tornar a realidade que virá muito melhor, mais completa, mais plena. Deixando os erros para trás e seguindo com os acertos. Aproveitando o melhor que a vida pode nos proporcionar! E claro, ouvindo e vendo o rádio!

A aventura supermercado

Eu tenho um apreço muito grande em ir ao mercado. Do mercadinho, ao hipermercado e o atacadão. Não importa o formato, vou sempre ao mercado. Em média não devo passar mais de quatro dias sem fazer uma visitinha básica em algum. Vou a procura dos descontos, das ofertas, dos pontos acumulados. E porque não dizer dos selinhos para trocar com alguma coisa. Me divirto muito fazendo isso. O divertimento é tão grande que não são poucas as vezes que os passeios de sábado com algum namorado foi num supermercado.  Ir com a família, o simplesmente levar algum/a amig@, ir só. De qualquer jeito sempre vou me divertir fazendo compras no supermercado. E esse hábito, essa alegria me acompanha desde a mais tenra infância. (Reza a lenda de um dos maiores escândalos da minha primeira infância, aconteceu num mercado, acho que é exagero da oposição.rs).

É claro que como tudo nos últimos tempos, essa frequência e essa alegria foram bruscamente transformadas. Para seguir as recomendações de isolamento a frequência diminuiu drasticamente e ir ao mercado se tornou um turbilhão de emoções. O primeiro sentimento é evitar ao máximo do máximo precisar ir em algum. Para sair os primeiros cuidados já se fazem necessário, colocar a máscara, de maneira que os óculos não fiquem embaçado, colocar o álcool em gel no bolso da calça, colocar uma camisa de manga comprida por cima de uma blusinha, tudo para deixar o corpo menos exposto. No caminho a mistura de raiva e culpa que tal visita gera. Raiva porque a gente percebe que as ruas não estão vazias como deveriam estar, e que muita gente não tem tomado o cuidado de sair de máscara. O de culpa é saber que contrariando as orientações sobre isolamento eu tenho que sair.

Chego no mercado, e dependendo da rede a raiva pode aumentar ou diminuir conforme os padrões sanitários de segurança. Começo as compras e me sinto num campo minado, qualquer produto, qualquer gondola pode estar contaminada com o vírus. Além do corre-corre para tentar evitar que as pessoas fiquem muito próximas de mim, e eu delas. Qualquer mínima aproximação humana acende o alerta de inimigo. E claro aquela raiva básica de quem não foi de máscara (Que Deus no ajude a liberar perdão!). Durante as compras a indignação com a alta excessiva de determinados produtos, bem como a limitação de quantidades por compra de outros, e a inexistência de alguns. Vencida essa batalha é hora de se dirigir ao caixa, usar dinheiro, nem pensar! É tudo no cartão, que depois passará por um banho de álcool gel! Vem então a hora de coloca-las no carro e o medo de contaminar todo o guerreiro Uninho Azul! Chegando em casa, hora de banhar, e limpar item por item, é água sanitária daqui, álcool gel dali, passado pelo detergente! Tira a roupa e já saí correndo desesperada para o banho, esfrega dali e daqui, e lava novamente o cabelo. Aí o pobre do meu corpo acha que voltou da sua maior batalha e se espreguiça na cama até recuperar a forças.  E assim a aventura, luta, batalha, seja lá como se pode chamar acaba.

O corona vírus tem transformado de variadas formas nossas rotinas nossos hábitos, nossos relacionamentos humanos, nossa forma de viver na e com a sociedade, de se relacionar no e com o ambiente. De abrir mão de inúmeras coisas que amamos fazer. E quem não entender que essas mudanças são extremamente necessárias e irão impactar nossa nova forma de viver e se relacionar, irão sofrer absurdamente. Meu café de hoje teve a intenção de dividir com vocês o quanto a nossa vida mudou e como a adaptação é necessária. E que não entender isso vai sofrer fortes consequências…

 

Lavando banheiro

Sem sombra de dúvidas uma das mais ingratas e sem o seu devido reconhecimento são as tarefas domésticas. Se você as realiza ninguém percebe, quando não, todo mundo reclama. Elas nunca, absolutamente nunquinha acabam. Hoje, nessa mesa de café quero destacar uma delas: lavar banheiro.

Minha primeira experiência em lavar banheiros não aconteceu no recôndito do meu lar, muito pelo contrário, foi de forma bem, bem pública mesmo. Em casa, apesar da atividade de limpeza do meu quarto, de tirar pó dos móveis da sala e cozinhar serem bastantes comuns para mim realizar desde tenra idade, lavar o banheiro sempre foi encargo dos meus pais. E a minha infância e adolescência foi se passado sem que eu percebesse que eu nunca tinha realizado tal tarefa. Até que um belo, glorioso e marcante dia, estava eu toda faceira no último dia do Projeto Missionário Uma Semana para Jesus, realizado pela Igreja Metodista, instituição religiosa que congrego e fui convidada a realizar tal tarefa. (Aquela definição para quem não é do meio: é um projeto anual de evangelização e assistência social, realizado durante uma semana, em alguma cidade, no qual @s voluntári@s de diversas áreas do conhecimento usam suas habilidades para ajudar as pessoas carentes do lugar. Nele @s voluntári@s além de trabalharem em suas áreas, dormem em colchões no chão, na maioria das edições, de escolas, e são responsáveis pela manutenção da limpeza do lugar). Com essa breve descrição, acredito eu, já foi possível a você car@ companheir@ de café de hoje criar aí uma imagem mental do que significa limpar esse ambiente utilizado de forma coletiva por uma média de 450 pessoas, de diferentes idades durante uma semana.

Sim, isso mesmo que você entendeu, minha primeira experiência em lavar banheiros na vida foi nesse peculiar contexto. Devo dizer que eu já tinha um pouco mais que 18 anos na época. Pois bem, eu e mais um pequenino grupo de amig@s fomos encarar a limpeza dos banheiros, que as pessoas utilizaram inclusive para tomar banho. Em meio ao canto de uma canção que embalava nossa espiritualidade e nos dava a força necessária para o empreendimento fomos limpando cada pedacinho daqueles banheiros.  A letra dizia: “Se não for pra te adorar, para que nasci? / Se não for pra te servir, por que estou aqui? /Sim, eu quero te adorar, te adorar/ Senhor, estou aqui! / Diante do trono, Senhor/ Quero levar minha oferta de amor/ Diante do trono, Senhor/ Quero levar meu sacrifício de louvor /As minhas mãos levantar/ Tua beleza, então, contemplar / E com meus lábios declarar toda minha adoração”. Fizemos de nossa obra o nosso louvor naquele dia. E desde então eu comecei a lavar banheiros em casa também. E em muitas outras edições do Projeto.

O que quero ressaltar dessa experiência não é a espiritualidade que deve ser baseada também em obras, seja ela qual for sua instituição religiosa, e sim a reflexão que você aí família com criança desesperada na quarentena pode fazer. Eu sei que é muito difícil segurar noss@s pequen@s dentro de nossas casas. E a gente gosta de “protegê-los” das atividades domésticas, todavia, não vejo momento mais oportuno (e eu tenho insistindo que essa quarentena tem que nos levar a sermos humanos melhores em tudo) para que nossas crianças comecem a participar de todas as tarefas domésticas. Claro, conforme sua idade, sem distinção de tarefas por meninos e meninas, pois, todas as responsabilidades de um lar são de ambos os sexos.

Como todo o processo de ensino e aprendizado, vai demorar um pouquinho para que a tarefa fique à altura de sua exigência, entretanto, continue deixando elas e eles realizarem até que de fato aprendam. Tenho certeza que a quarentena vai parecer mais leve, e incrivelmente produtiva, pois, será uma experiência que trará benefícios para o resto da vida de nossas crianças. E elas e eles começarão a valorizar muito mais o ambiente em que vivem e como é importante a manutenção de sua limpeza e organização. E além disso não precisarão passar pela experiência, absurdamente marcante e positiva, que tive ao lavar pela primeira vez o banheiro.

Se meu conselho, dica, ideia, sugestão, reflexão, seja lá como você nomear der certo, pode me chamar para uma mesa de café na sua casa após a quarentena, terei um prazer imenso em narrar essa história com outras tantas riquezas de detalhes que não cabem nessa linguagem escrita para suas crianças! E ouvir delas os relatos de como estão cooperando para tornar a limpeza de suas casas muito melhores.

 

 

 

 

O muro invisível

Um dos primeiros fatos históricos que eu tenho lembrança é sobre o muro de Berlim (Em algum momento já falei um pouco mais sobre isso nessa nossa mesa). Eu devia ter por volta de 6 anos quando me deparei com a contracapa de um Almanaque Abril que tinha as bandeiras de todos os países do mundo, e tinha a da Alemanha Ocidental e da Alemanha Oriental. Aquilo chamou minha atenção e fui perguntar para minha irmã, foi então que ele me disse que havia um muro que separava as duas Alemanhas. Na cabeça daquela menininha aquilo pareceu o máximo do máximo. Um muro que separava um país em dois. Longe de entender o que era Guerra Fria, Socialismo e Capitalismo, na época, eu fiquei encantada com aquilo e comecei a imaginar como seria a vida de famílias que foram separadas pelo muro. Tenho inclusive a lembrança de ter utilizado o tapete vermelho que fora usado no casório da minha irmã, que estava no quintal de casa para ser higienizado, para fazer a brincadeira que ele era o muro e que as pessoas, no caso euzinha, tentavam passar de um lado para o outro (ou seja, eu pulava de lá para cá sem pisar no tapete.rs)

Com o transcorrer dos anos, com os devidos conhecimentos históricos adquiridos, o muro deixou de ter esse encanto da minha infância. E eu pude entender o que de fato ele significava. Acho interessante notar, que hoje, mais de três décadas que o muro foi derrubado, em 2020, em pleno auge da pandemia do covid-19 outro muro se levanta. Esse totalmente invisível, o muro do vírus. Assim, como muitas e muitas famílias alemãs tiveram que ser abruptamente separadas, hoje, mais de um terço do planeta Terra tem passado por essa mesma situação. E como ela é super difícil.

Que saudade que dá de dar aquele beijo, aquele abraço em um/a ente querid@, num/a amig@ de velha data, de brincar com as crianças deles/as. De sentir um simples toque, em alguma parte do corpo (tem gente que ama falar cutucando a gente involuntariamente. rs). Que saudades daqueles/as que estão em outros estados e a gente queria aproveitar o transcorrer do ano para visitar!

Esse muro invisível do vírus é muito mais avassalador, e tod@s nós sabemos que a única forma de rever a tod@s depois que esse tempo do auge do vírus e da quarentena passar, é ficar distante agora. Não tem sido fácil, dói e dói muito esse afastamento necessário. Contudo, o afastamento através do muro do fim da vida, esse não tem volta. Não tem sido fácil para mim, para você creio que também não. Entretanto, temos que seguir cooperando uns/as @s outr@s para que esse muro seja derrubado o mais rápido possível. Certamente, ele não irá durar décadas como o muro de Berlim, e as histórias dos reencontros das pessoas que viveram essa experiência possa até nos ajudar a lidar melhor com essa nossa experiência. O fundamental agora é esperar que esse tempo passe rapidinho e que dentro em breve ao invés de dividir um café virtual, possamos compartilhar muitos e muitos cafés juntos, tocando quem a gente ama! Força para tod@s nós!

Café das Cinquepocas: O Retorno!

Foi naquele início de 2013, na época eu estava bastante atarefada com meu mestrado que recebi um convite no mínimo peculiar de um amigo, o senhor Kadu Mattos, escrever num blog. O blog não era um blog qualquer, ele tinha como temática a mesa de um café, realizado pontualmente às Cinquepoca, e cada participante poderia preparar seu café temático com assuntos inerentes aos seus universos particulares. Pensei muito na proposta e resolvi aceitá-la. Assim, entre os anos de 2013 até 2016 preparei e servi meu café cerca de 70 vezes. A ideia sempre foi que eles tivessem um enfoque para a História, já que eu sou historiadora, entretanto as histórias do mundo e as dos meus universos particulares também se tornaram temas dos meus cafés. Pois, a dinâmica da vida não nos restringe a um só tema!

Agora nesse retorno, exatamente 40 meses depois do último café que havia preparado para essa tão bonita mesa, eis aqui a historiadora de volta! Agora com novas histórias e novos títulos, sou no presente momento doutoranda do último semestre do curso de Ciências da Religião. Fiz curso livre de história do cinema, e tenho feito do videoclipe meu objeto de estudo na tese. Ou seja, uma Flávia ainda mais próxima dos universos da cultura pop e do entretenimento. Novos repertórios virão!

Outras coisas também mudaram muito desde 2016, mudei de trabalho algumas vezes, continuo professora, agora atuando com outra faixa etária, em outra esfera pública. Vivi novos amores, duradouros ou rápidos e arrebatadores! Conheci muitos lugares, conheci novas pessoas…. Muita água correu debaixo da minha ponte, isso só aumentou ainda mais o meu repertório de conteúdo e experiências que irei compartilhar aqui na nossa mesa. Nosso país mudou muito também desde então. E esses temas e assuntos aparecerão hora mais escancarados, horas mais discretos nos meus cafés, sempre evitando a polêmica de cair no lugar comum, buscando um olhar diferente, segundo minhas percepções de mundo, fé e vivências.

Talvez esse texto de retorno fizesse mais sentindo na semana passada, quando meus cafés voltaram a ser servidos nessa mesa, contudo, tentei quebrar a lógica, a ordem cronológica, justamente para demostrar que esse retorno pode ser diferente e ainda maior e melhor!