Incoerências

Nesse tempo pandêmico em que vivemos planetariamente tem revelado uma enxurrada de opiniões e também atos incoerentes. Uma mesma pessoa pode achar um mega master absurdo a mentira, mas compartilha notícias falsas numa velocidade e facilidade tremenda. Discentes que nunca se interessaram pelas aulas, reclamam em alto e bom som nos mais diversos meios de comunicação que estão perdendo conteúdo. E no campo escolar podemos ainda destacar aqueles que reclamam a falta das escolas para os alunos aprenderem, todavia, só a percebem como um depósito para deixar as crianças enquanto os responsáveis familiares vão trabalhar. Há aqueles religiosos que defendem a ferro e a fogo a preservação da vida, entretanto não ligam para os números de mortos que apenas sobem em virtude da covid 19. Tem quem quer que a epidemia acabe, só que não para em casa para que a disseminação do vírus cesse. Tem os que ficam horas a fio na fila para entrar num shopping, e saem de lá sem comprar absolutamente nada.

Há quem reclame veementemente dos gastos públicos com pesquisa e incentivo aos pesquisadores, mas, quer uma cura, ou uma vacina urgente. Existem o que querem discutir racismo, todavia, tem medo do seu discurso parecer incomodo aos brancos, ou ainda querem discuti-lo sem dar lugar de fala aos negros. E tem quem quer fazer nota de repúdio por tudo que considera errado, entretanto, não consegue ajudar alguém próximo que está em necessidade. Há quem faz apelos dizendo que a economia precisa voltar a crescer, pois, muitos irão morrer de fome, só que nunca se importaram em refletir sobre justiça e desigualdade social. Há quem não quer perder o emprego, ainda que isso lhe custe perder a vida. Há quem fez do trabalho a vida, e tem dificuldade em fazer o trabalho em casa. Tem quem quer a reabertura gradual do comércio em algumas cidades, justamente no período do aumento elevadíssimo no número de casos da doença.

A lista poderia seguir páginas e páginas a fio, isso porque só enfatizei aspectos que se tornaram ainda mais evidentes com a pandemia. É claro que considero que “parece natural” dos seres humanos praticarem, em algum momento da vida, em alguma situação uma certa incoerência, afinal somos imperfeitas, imperfeitos. Contudo, vivemos um tempo que podemos refletir sobre o que queremos ser, tanto quanto indivíduo como em sociedade. Podemos diminuir muito essas incoerências. Vivemos num momento que requer mudanças, quebra de paradigmas, reconstrução social, para que quando pudermos desfrutar do mundo pós-pandêmico vivamos, como diria a canção, dias em que seremos: “Melhores no amor/ Melhores na dor/ Melhores em tudo/ Dias de paz/ Dias a mais/ Dias que não deixaremos para trás”.*

Por isso, quero terminar meu Café de hoje com a pergunta: Em que medida você quer viver dias melhores superando suas incoerências?

*Dias melhores: Rogério Flausino- Jota Quest