Lavando banheiro

Sem sombra de dúvidas uma das mais ingratas e sem o seu devido reconhecimento são as tarefas domésticas. Se você as realiza ninguém percebe, quando não, todo mundo reclama. Elas nunca, absolutamente nunquinha acabam. Hoje, nessa mesa de café quero destacar uma delas: lavar banheiro.

Minha primeira experiência em lavar banheiros não aconteceu no recôndito do meu lar, muito pelo contrário, foi de forma bem, bem pública mesmo. Em casa, apesar da atividade de limpeza do meu quarto, de tirar pó dos móveis da sala e cozinhar serem bastantes comuns para mim realizar desde tenra idade, lavar o banheiro sempre foi encargo dos meus pais. E a minha infância e adolescência foi se passado sem que eu percebesse que eu nunca tinha realizado tal tarefa. Até que um belo, glorioso e marcante dia, estava eu toda faceira no último dia do Projeto Missionário Uma Semana para Jesus, realizado pela Igreja Metodista, instituição religiosa que congrego e fui convidada a realizar tal tarefa. (Aquela definição para quem não é do meio: é um projeto anual de evangelização e assistência social, realizado durante uma semana, em alguma cidade, no qual @s voluntári@s de diversas áreas do conhecimento usam suas habilidades para ajudar as pessoas carentes do lugar. Nele @s voluntári@s além de trabalharem em suas áreas, dormem em colchões no chão, na maioria das edições, de escolas, e são responsáveis pela manutenção da limpeza do lugar). Com essa breve descrição, acredito eu, já foi possível a você car@ companheir@ de café de hoje criar aí uma imagem mental do que significa limpar esse ambiente utilizado de forma coletiva por uma média de 450 pessoas, de diferentes idades durante uma semana.

Sim, isso mesmo que você entendeu, minha primeira experiência em lavar banheiros na vida foi nesse peculiar contexto. Devo dizer que eu já tinha um pouco mais que 18 anos na época. Pois bem, eu e mais um pequenino grupo de amig@s fomos encarar a limpeza dos banheiros, que as pessoas utilizaram inclusive para tomar banho. Em meio ao canto de uma canção que embalava nossa espiritualidade e nos dava a força necessária para o empreendimento fomos limpando cada pedacinho daqueles banheiros.  A letra dizia: “Se não for pra te adorar, para que nasci? / Se não for pra te servir, por que estou aqui? /Sim, eu quero te adorar, te adorar/ Senhor, estou aqui! / Diante do trono, Senhor/ Quero levar minha oferta de amor/ Diante do trono, Senhor/ Quero levar meu sacrifício de louvor /As minhas mãos levantar/ Tua beleza, então, contemplar / E com meus lábios declarar toda minha adoração”. Fizemos de nossa obra o nosso louvor naquele dia. E desde então eu comecei a lavar banheiros em casa também. E em muitas outras edições do Projeto.

O que quero ressaltar dessa experiência não é a espiritualidade que deve ser baseada também em obras, seja ela qual for sua instituição religiosa, e sim a reflexão que você aí família com criança desesperada na quarentena pode fazer. Eu sei que é muito difícil segurar noss@s pequen@s dentro de nossas casas. E a gente gosta de “protegê-los” das atividades domésticas, todavia, não vejo momento mais oportuno (e eu tenho insistindo que essa quarentena tem que nos levar a sermos humanos melhores em tudo) para que nossas crianças comecem a participar de todas as tarefas domésticas. Claro, conforme sua idade, sem distinção de tarefas por meninos e meninas, pois, todas as responsabilidades de um lar são de ambos os sexos.

Como todo o processo de ensino e aprendizado, vai demorar um pouquinho para que a tarefa fique à altura de sua exigência, entretanto, continue deixando elas e eles realizarem até que de fato aprendam. Tenho certeza que a quarentena vai parecer mais leve, e incrivelmente produtiva, pois, será uma experiência que trará benefícios para o resto da vida de nossas crianças. E elas e eles começarão a valorizar muito mais o ambiente em que vivem e como é importante a manutenção de sua limpeza e organização. E além disso não precisarão passar pela experiência, absurdamente marcante e positiva, que tive ao lavar pela primeira vez o banheiro.

Se meu conselho, dica, ideia, sugestão, reflexão, seja lá como você nomear der certo, pode me chamar para uma mesa de café na sua casa após a quarentena, terei um prazer imenso em narrar essa história com outras tantas riquezas de detalhes que não cabem nessa linguagem escrita para suas crianças! E ouvir delas os relatos de como estão cooperando para tornar a limpeza de suas casas muito melhores.